Você acha que o medo deixa as
pessoas mais egoístas? Com essa pergunta o filme Estamos Juntos começa o desenrolar de sua narrativa. Carmen (Leandra
Leal ) é uma médica que larga a cidadezinha onde nasceu e busca se encontrar em
São Paulo. Um pouco tímida e um tanto quanto reclusa em seu apartamento, tem em
seu amigo gay, Murilo, (Cauã Reymond) a combinação perfeita para impulsioná-la nesse
desejo de explorar mais o mundo e a companhia das pessoas. A relação dos dois
fica estremecida quando o músico argentino Juan (Nazareno Casero) pede abrigo na
casa de seu melhor amigo. Mesmo sabendo que o argentino é heterossexual, o Dj interpretado por Cauã
Reymond apaixona-se pelo rapaz e nutre esperanças de conquistá-lo. Mas Carmen
entrará nessa história reduzindo as chances desse plano dar certo. Como assim
dar certo? Estamos falando de um gay que deseja mudar a opção sexual de um
hetero? O filme constantemente falará sobre a negação do real e a criação do
imaginário. Então, qual seria o julgamento racional pertinente?
O argentino, interpretado por Nazareno
Casero, é um músico conquistador, sedutor e cheio de palavras, propostas e
atitudes ousadas e obscenas. O violinista só propõe uma coisa: sexo bom! Noites
intensas de prazer no lugar de uma vidinha mais ou menos. O
relacionamento dos dois fará com que Carmen perca seu único amigo. Valerá à
pena? Assistindo ao filme veremos que essa não é a questão mais importante.
Carmen também vive uma estranha
relação com um homem (Lee Taylor) "imaginariamente real" que povoa todos os
momentos de sua vida. Ela chega em casa e lá está ele pronto para massageá-la; ela
está triste, ele ouve tudo.Ele existe? Tem nome? Não estragaria essa dúvida. Afinal,
como já disse, o filme fala de nossas expectativas diante da vida, sejam elas
reais ou imaginárias. E nem sempre achamos explicações sobre o que realmente
prevalece: o real ou o imaginário.
O filme tem uma narrativa lenta,
calma, como muitas vezes é a vida. Mesmo que tenhamos mudado a direção das
velas em busca de tormenta, às vezes, só encontramos a calmaria. Não basta
mudar de cidade, de profissão, de nome para a vida ganhar outra cor. Os tais caprichos
da existência nos fazem caminhar para onde não esperamos. Onde está o problema?
Na vida, em nós mesmos ou na forma de enxergar a vida? Carmen também provará um
pouco de tudo isso.
Para terminar, não deixaria de
refletir e filosofar sobre a grande pergunta do filme: O medo
deixa as pessoas mais egoístas? O medo e o egoísmo ,presentes na pergunta, não estão
relacionados ao fato de não compartilharmos coisas com outras pessoas. O grande
egoísmo que podemos produzir é aquele que priva outras pessoas de nossa
companhia e, claro, nos afasta de todos. Carmen é uma jovem residente, bonita,
inteligente e solitária. No decorrer do filme, ela se pergunta: Mas onde estão os
amigos? Não fiz nenhum amigo nessa vida? As respostas aparecerão com o tempo. Às
vezes o egoísmo nos afasta das pessoas e Carmen saberá encontrar suas
respostas.
Texto e a pura Filosofia da vida + o gostar de Alberto Caeiro: Luciana Rodrigues
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